segunda-feira, 29 de março de 2010

Ser um professor inovador - Um texto para meditarmos

Miguel Gameiro Silva| 2010-03-08

Eu acreditava piamente que qualquer projecto teria de ter um olho muito atento à realidade e outro atento à utopia, porque não há projecto sem sonho e é a utopia que faz andar e melhorar o mundo


Após muitos anos no ensino especial, em que trabalhei com crianças com necessidades educativas especiais moderadas e severas, decidi voltar ao ensino regular e enveredar por um Projecto Curricular de Turma inovador, de mudança e melhoria da nossa escola. A nossa escola padece de vários males, como bem sabemos.


Em vez de escolher o discurso da lamúria ("antigamente é que era bom") e uma postura comodista ou corporativista, resolvi transformar a minha sala de aula do 1.º ciclo do Ensino Básico. Partindo do modelo de sala de aula desenvolvimental, criei vários centros de aprendizagem: Língua Portuguesa (manuais escolares, livros, fichas de trabalho diferenciadas, sopa de letras, palavras cruzadas, jornal escolar, caixa da escrita criativa), Matemática (ábacos, geoplanos, tangram, calculadoras, compassos, material lúdico-manipulativo para efectuar decomposições e cálculos, fichas de trabalho diferenciadas), Ciência (esqueleto humano, materiais para pequenas experiências), Música (instrumentos musicais, sistema áudio, cassetes de músicas e histórias infantis), jogos e puzzles (variadíssimos jogos didácticos ao nível da língua portuguesa e matemática), informática (dois computadores e cerca de trinta CD lúdico-didácticos), teatro (carcaça de televisão, marionetas, biombo), carpintaria (mesa de carpinteiro, madeira, serrotes, martelos, cola, etc.), animais (uma gaiola com um coelho-anão e um aquário), amizade (caixa dos elogios e aplausos, placard da amizade, caixa das surpresas), comissão de ajuda (resolução conjunta dos comportamentos disruptivos), guardas da escola (clube criado para supervisionar o recreio e resolver situações de bullying), de modo a responder às diversas necessidades, ritmos, interesses e pontos fortes dos cerca de vinte alunos.



Tal como a maioria das turmas do 1.º ciclo, deparei-me com uma grande heterogeneidade (nunca encontrei, e duvido que encontre algum dia, uma turma homogénea), ou seja, crianças que nem sabiam pegar num lápis, uma criança que tinha graves problemas de linguagem e o seu passatempo preferido era comer a borracha, crianças oriundas de famílias desestruturadas e sem a mínima noção de regras de convivência, e por aí adiante. Nada que me desanimasse e desistisse do meu projecto, arranjando comodamente bodes expiatórios.


Eu acreditava piamente que qualquer projecto teria de ter um olho muito atento à realidade e outro atento à utopia, porque não há projecto sem sonho e é a utopia que faz andar e melhorar o mundo.

A sala funcionou com base na seguinte premissa: as crianças desenvolvem aptidões em períodos de tempo únicos e individuais, de acordo com o seu plano individual de trabalho, o qual é elaborado e negociado na assembleia de turma.

Não demorou muito tempo para me aperceber que este projecto seria implementado de forma isolada. Dos treze professores existentes na escola, nem um se mostrou disponível - e com coragem - para realizar um ensino a pares e entrar nesta aventura inovadora. "Não me sinto segura", dizia-me a mais nova.

Não obstante ter facultado o meu número de telemóvel aos pais, ter-lhes enviado informação mensal sobre o processo de ensino-aprendizagem dos filhos, ter colocado um quadro, com fotos das actividades realizadas, na entrada da sala de aula, ou ter-lhes convidado para entrar na sala de aula e assistir às aulas, a maioria dos pais torceu o nariz às carteiras em grupo, à aprendizagem cooperativa, à assembleia de turma, ao quadro dos direitos e deveres dos alunos, bem como à comissão de ajuda que pretendia desenvolver uma autodisciplina nos alunos e uma pedagogia cidadã: "Ninguém aqui faz isto!", "no meu tempo não era nada disto!", "Os alunos da professora do lado estão mais adiantados!", "Eu não quero saber se o meu filho ajuda o outro. Eu quero é que ele avance."

Por sua vez, na sala de professores ouvia: "A aluna tem dificuldades por causa das maluquices dele."; "Isso é tudo muito bonito na teoria, mas na prática... Quantos anos de serviço tens?".

Por fim, a afirmação do superior hierárquico: "O senhor não pode andar a fazer sozinho essas inovações. Ouvi dizer que os alunos fazem o que querem. Vai ser avaliado! O seu projecto vai ter que ser aprovado em conselho pedagógico. Caso não o seja, deverá aproximar-se das práticas mais tradicionais das suas colegas."

No nosso (triste) país o docente que inova, que rompe com as rotinas, é normalmente acusado de ser presunçoso, é-lhe aplicado uma etiqueta desqualificadora, é chamado de ingénuo, apontam-lhe problemas emocionais e nega-se a viabilidade dos seus projectos (Guerra:2003).


Tenho perfeitamente a noção de que nem todos os professores terão a resistência e o espírito crítico necessários para levar em frente um projecto de quatro anos, como este. Até porque, em abono da verdade, ele acarretou muitas horas extra que, compreensivelmente, muitos não estão dispostos a dar.

Eu estava seguro das minhas convicções, não só pelo investimento que fiz no meu desenvolvimento profissional, como também pela rigorosa fundamentação teórica que constava no projecto. A teoria, tantas vezes criticada na escola, deve ser vista como um guia. Caberá ao professor, a meu ver, ser um líder e um artista com carácter e personalidade, fazendo a simbiose entre a teoria e a prática. Parafraseando Sebastião da Gama: "Apesar de a escola não poder resolver todos os problemas dos alunos, ser bom professor consiste em adivinhar a maneira de levar todos os alunos a estarem interessados; a não se lembrarem que lá fora é melhor."

quinta-feira, 25 de março de 2010

Uma visita muito especial


Hoje, no nosso JI, tivemos a Visita da (Encantadora) Contadora de histórias Clara Haddad que nos fez reviver as nossas infâncias, momentos de encantamento e de magia.

 Para Clara Haddad, as palavras do poeta

E aquilo que tu dizes
há-de dar voz ao que sentes, 
porque a fala é um canteiro
onde os sons são as sementes.
e aquilo que tu sentes
passa de avós para netos, 
é o livro onde se guarda
 o tesouro dos afectos

 José Jorge Letria


segunda-feira, 22 de março de 2010

Dias de Paz

Decidi que este fim de semana fosse diferente...sem trabalho, sem computador, apenas com domestiquices.
E então foi só...
 ... Cozinhar...
... Crochetar na manta da Mafalda...
... Ver televisão...
... Ler o Expresso...
... Namorar...
... Dormir...
... Ver a Exposição da Lurdes Castro...
... Sentir o cheiro da Primavera a rebentar nas árvores.


Dia da Poesia

A minha escolha vai para um poema musicado pela autora...RESTOLHO de Mafalda Veiga



Restolho
geme o restolho triste e solitário
a embalar a noite escura e fria
e a perder-se no olhar da ventania
que canta ao tom do velho campanário

geme o restolho preso de saudade
esquecido, enlouquecido, dominado
escondido entre as sombras do montado
sem forças e sem côr e sem vontade

geme o restolho a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda

mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar pra aprender a viver

e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim dia não
é feita em cada entrega alucinada
pra receber daquilo que aumenta o coração

geme o restolho a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa é enorme, intensa, aguda

mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar pra aprender a viver

e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim dia não
é feita em cada entrega alucinada
pra receber daquilo que aumenta o coração

( a pensar em ti, Mafalda )
Sol de Março  

 dos laivos brancos que há no céu para enfeitar
descendo à fruta já madura do pomar
e arrufando nas varandas
asas negras como as tranças
das meninas que à janela se vão pentear

há campos verdes onde cresce o malmequer
branco, amarelo com o bico o vai colher
e voltando prás varandas
com a flor enfeita as tranças
das meninas que à janela se vão recolher

um sol de Março
um vento fresco
e o canto alegre da fazer o ninho nos beirais
um campo verde
um sol aceso
e as meninas de outros tempos com seus aventais

de telha em telha saltitando sem voar
no espaço aberto agitando o seu cantar
trazem côr para as varandas
trazem laços para as tranças
das meninas que à janela se vão encantar

o sol demora no no calor que faz dormir
o canto é lento é lindo é calma a descobrir
e as meninas nas varandas
os cabelos já sem tranças
debruçadas para os laços que viram cair

um sol de Março
um vento fresco
e o canto alegre da fazer o ninho nos beirais
um campo verde
um sol aceso
e as meninas de outros tempos com seus aventais

um sol de Março
um vento fresco
e o canto alegre da fazer o ninho nos beirais

sexta-feira, 12 de março de 2010

quarta-feira, 10 de março de 2010

quinta-feira, 4 de março de 2010

Para ti, minha querida..ate daqui a 25 dias

E se eu chorar
E o sal molhar o meu sorriso
Não se espante, cante
Que o teu canto é a minha força
Pra cantar
Quando eu soltar a minha voz
Por favor, entenda
É apenas o meu jeito de viver
O que é amar