sábado, 26 de janeiro de 2008


Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar


Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.


O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.


Cecília Meireles

2 comentários:

Carol Timm disse...

Ana,

Estranha forma de enterrar o sonho, ainda que triste, poética.

Pobre de nós que temos tantas vezes nossas mãos assim quebradas.

Beijos e obrigada pelos poemas todos, gotei especialmente dos Meninos de Todas as cores. Certamente em breve vou publicar!

Sala Amarela do JI Vasco da Gama disse...

Querida Carol,

Em boa hora deixar meu sonho naufragar...ele seguiu as águas do sul e trouxe de volta, além de um sonho, o amor!!!